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  • Foto do escritorCaroline Arcari

Uma editora de Educação Sexual em tempos de bolsonarismo

Como funciona a Editora Caqui, criada e movida por um grupo essencialmente composto por mulheres.




A Editora Caqui tem a missão de publicar livros e produzir recursos educativos que possam mudar vidas. Tendo a educação sexual de qualidade como principal temática das suas obras, a editora acredita na informação sobre sexualidade como um direito fundamental de crianças, adolescentes, mulheres e homens para um vivência plena, saudável e feliz. A educação sexual também é  ferramenta essencial no enfrentamento da violência sexual e da violência contra a mulher.


Com um grupo de ilustradoras, autoras e designers mulheres, será a primeira vez que a editora lançará um livro infantil escrito por um homem, no mês de abril, uma obra chamada Ilha das Lágrimas de Rodrigo Romão Xavier. O motivo? O livro trata do tema masculinidades positivas, uma perspectiva não machista para educação dos meninos.


Nessa entrevista, a proprietária da Editora Caqui, Caroline Arcari, que também autora da premiada obra Pipo e Fifi: ensinando proteção contra violência sexual, fala sobre os desafios da Educação Sexual no Brasil.

- Durante suas experiências em outros países, você notou alguma diferença na recepção do tema no Brasil e em outros lugares? (Ou talvez até mesmo uma diferença dentro do Brasil, mas em diferentes contextos?)

Caroline: São várias as diferenças, até mesmo dentro de um mesmo país, se levarmos em conta instituições públicas e privadas, níveis de ensino, gestão política, etc. Em Portugal, a Educação Sexual está prevista na lei. As instituições de educação infantil trabalham questões de sexualidade de forma contínua e rotineira, mas ainda há pouca atenção à violência sexual como política pública. Em Cabo Verde, na África, a receptividade quanto à temática como elemento curricular indispensável no enfrentamento à violência sexual é enorme, até porque é um país comprometido com políticas de enfrentamento ao Turismo Sexual. Apesar de já ter visitado vários outros países, nunca encontrei algo parecido como a situação atual do Brasil. - Qual sua leitura do momento político que o Brasil vive, em relação à educação sexual?

A visão distorcida sobre a Educação Sexual virou pauta política conservadora e as notícias falsas infelizmente contribuem para a reprodução do mito de que ela erotiza as crianças e facilita o acesso de abusadores aos seus corpos. Políticos que vociferam contra a ES sem fundamentação científica alguma, pautados na mentira e na polêmica, estão prestando um enorme desserviço à proteção de crianças e adolescentes contra a violência sexual. Segundo esses candidatos irresponsáveis, sexualidade é assunto reservado unicamente ao espaço doméstico e apenas competência da família: isso é um erro por um motivo muito simples. Em torno de 75% das denúncias de violência sexual envolvem ambiente intrafamiliar, ou seja, são casos cujos autores da violência são padrastos, pais, parentes ou pessoas que as crianças confiam e tem algum vínculo de responsabilidade e afeto. Se Educação Sexual ficasse

reservada à esfera familiar, como essas crianças teriam acesso à informação que poderá protegê-las dos abusos? Prevenção de violência sexual não acontece a partir do silenciamento das escolas ou outros espaços educativos. O diálogo de qualidade, com profissionais bem preparados e materiais didáticos adequados é o caminho para a proteção das infâncias e das juventudes. Vou além: candidato que é contra a educação sexual nas escolas estão sendo coniventes com a violência sexual, simples assim. Importante lembrar que, a despeito desse movimento conservador, nossa Constituição, Estatuto da Criança e do Adolescente e tantos outros dispositivos legais e convenções internacionais reafirmam que a inclusão de temas de educação sexual no currículo é parte do direito das crianças e adolescentes de ampliar os seus referenciais a partir de concepções diversas e científicas, todas necessárias ao pleno exercício da autonomia individual e da cidadania. - Na sua visão, quais os maiores obstáculos para a implementação de uma educação sexual mais completa no Brasil? Precisamos de forma urgente enfrentar as fake news nas redes sociais e tornar o conceito sobre Educação Sexual uma informação acessível, palatável e que permita que a comunidade a compreenda a partir de toda a fundamentação científica que a sustenta. Precisamos qualificar os profissionais que atuam na educação, saúde, serviço social, cujas formações iniciais na graduação não contemplaram as temáticas de sexualidade. Precisamos de ensino público de qualidade e não de propostas como a Escola Sem Partido, absolutamente inconstitucional que pretende censurar a discussão democrática das questões relacionadas à sexualidade. É imprescindível garantirmos às crianças e adolescentes o direito à informação, tanto na família como nas instituições escolares, de modo que favoreça a autonomia individual, acesso a múltiplas visões de mundo, o respeito aos direitos humanos e ao pensamento crítico.


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